Arte

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 03h52min de 26 de março de 2009 por Andre (Discussão | contribs)

1

Segundo Heidegger, pensar a arte se faz a partir da sua essência, isso significa compreender a arte a partir da sua definição: "o pôr-se-em-obra da verdade" (1). Nessa definição se dá a conexão entre obra e arte. Para pensar a arte é necessário pensar as obras e para pensar as obras é necessário pensar a arte. Por isso pergunta: "o que é a verdade para que ela possa ou até mesmo tenha de acontecer como arte? Em que medida há arte em geral?" (2). Quando define a arte como ins-werk-setzen-der Wahreit há aí ambiguidade. Diz: "mas esta determinação é conscientemente ambigua. Ela diz, por um lado: a arte é o estabelecimento da verdade que se institui na forma. Isso acontece na criação como produção (hervor-bringen) da desocultação do ente. Mas ao mesmo tempo, pôr-em-obra que dizer: pôr em andamento e levar a acontecer o ser-obra. Tal acontece como salvaguarda. A arte é então: a salvaguarda criadora da verdade na obra. A arte é, pois, um devir e um acontecer da verdade" (3). Como vemos temos uma dupla definição da arte: na primeira destaca-se a verdade e a obra, mostrando a necessidade da obra como ser-produzido, como ente, já na segunda destaca-se o acontecer e o devir permanente (resultando na salvaguarda) da verdade.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Origem da obra da arte. Trad. Maria da Conceição Costa. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 46.
(2) idem, p. 46.
(3) idem, p. 57.


Ver também:


2

"As coisas da arte são sempre resultado de ter estado a perigo, de ter ido até o fim em uma experiência, até um ponto que ninguém consegue ultrapassar" (1). "Na arte, só podemos permanecer na força de quem 'pode' e, pelo fato de permanecermos aí, esta força cresce e sempre volta a nos ultrapassar" (2). Esta passagem diz respeito ao próprio enigma da interpretação.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) RILKE, Rainer Maria. Cartas sobre Cézanne. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996, p. 24.
(2) idem, p. 28.


3

Ernesto Grassi, citando Malreaux, diz: "A religião só podia ser isto quando deixou de ser crença: as suas representações tiveram primeiro que passar por uma antecâmara ..." (1). Na realidade, trata-se aí da questão da fé e da arte. Quanto ao sagrado, elas não não discordam, só quanto ao sistema e só neste, isto é, à leitura de tais obras a partir de conceitos metafísicos. Pois, perdendo a sua função religiosa, dentro de um mundo de fé, aparece o vigor da obra como arte. O que se perdeu na função religiosa foi um determinado mundo. E do vigor da obra o mundo como tal em disputa com a terra vem ainda mais forte. Porém, esse poder da obra foi encoberto ou pela leitura estética ou pela leitura formal dos estilos de época. Época aí é apenas algo historiográfico sem o vigor histórico da arte. A história da arte pelos estilos de época tem apenas um valor de acumulação de conhecimentos formais sem nenhum vigor ético e poético.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) GRASSI, Ernesto. Arte e Mito. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 140.


Ver também:


4

Ernesto Grassi, no livro Arte e Mito (1), faz um encaminhamento do entendimento de arte em que procura ligar Platão e Zen Budismo. Ele procura articular a arte com a arte do tiro ao alvo, mas não cita aí a Via de Chuang Tzu (2), onde há passagens a esse respeito. O importante é ver a possibilidade de encaminhar a arte nessa dimensão. Seria assim diferente e completamentar à reflexão de Heidegger, em que nos propõe a arte como disputa de mundo e terra, e acentuaria mais a paidéia poética ou a obra como a escuta da fala do lógos. As referências de Erneto Grassi a Platão são feitas a partir do diálogo "Íon", de que faz uma longa citação, mas também poderia referir-se ao "Fedro". Teríamos três dimensões complementares na obra de arte: 1º manifestação de mundo; 2º obra: diálogo e escuta como travessia poética ; 3º a questão do sagrado, da arte do tiro ao alvo. O que vai unir essas três dimensões: Liguagem/tempo, mundo e memória. Ver para isto o ensaio de Hedeigger: "Holderlin e a essência da poesia". Sobre o "conceito" de Heidegger de arte e mundo é interessante constatar a seguinte observação de Ernesto Grassi: "[...] em todas as interpretações de deteminada obra, o historiador é obrigado a considerar em primeiro lugar a sua relação com a concepção do mundo e com o espírito que lhe serve de base. Dado que a arte representa sempre uma das inúmeras possibilidades existentes e destinais do homem ..." (s/d, p. 176). O problema aí é o conceito de representação, que nada tem a ver com Heiddeger. O conceito de arte de Grassi ainda é metafísico.


Referências:
(1) GRASSI, Ernesto. Arte e Mito. Lisboa: Livros do Brasil, 1979, p. 102.
(2) MERTON, Thomas. Via de Chuang Tzu. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 1996.


5

A poiesis não é. Dá-se. No filme “O herói”, o diretor em determinado momento trata do "polemos" (em grego: disputa / guerra). Em geral, a disputa nunca é pensada como arte/poiesis, só como tékhne. Porém, ela desdobra a disputa em três diferentes forças ou energias que, para serem corpo, precisam estar unidas. São elas: a física, metaforizada na espada, que nos remete para todas as armas; a mental: domínio de técnicas; e a terceira força que, na disputa, não pode sofrer interferências: a psíquico-erótica. Esta desestabiliza as duas anteriores. Certamente porque nestas predomina a poiesis, que é a dimensão mais radical da linguagem. O diretor dá dois modos de convivência com a poiesis / linguagem: a música e a arte do diagrama. Só que, neste caso, tal arte não consiste em pintar exatamente o diagrama, mas em manifestar as ambigüidades do ENTRE. Em tais ambigüidades sempre se faz presente uma técnica. Aqui teríamos uma invenção de Hermes, é o lírico. Porém, ele é doado a Apolo, o deus da técnica. Nesta força comparece o ser-com, mas sempre a partir do entre. Mas isto ocorre porque em todas as forças e modos de realização da técnica pode-se fazer presente a poiesis ou não. Se acontce, é o que poderia se nomear inter-disciplinaridade poética.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:


6

"As coisas da arte são sempre resultado de ter estado a perigo, de ter ido até o fim em uma experiência, até um ponto que ninguém consegue ultrapassar. (...) Na arte, só podemos permanecer na força de quem 'pode' e, pelo fato de permanecermos aí, esta força cresce e sempre volta a nos ultrapassar" (1). (Estas passagens dizem respeito ao próprio enigma da interpretação.)


Referência:
(1) RILKE, Rainer Maria. "Cartas sobre Cézanne". Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996, p. 24 e p. 28.


7

"As artes, enquanto musas, são as filhas da memória. Por isso, toda obra de arte opera o entre enquanto memória e tempo, linguagem e poiesis, onde o operar não é da obra, mas da verdade, ou seja, o entre enquanto desvelar-se e velar-se. Tal entre é o originário de mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Interdisciplinaridade poética: o “entre”. In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 7/36, jan.-mar., 2006, p.34.