Éthos

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 02h20min de 23 de Junho de 2009 por Jun (Discussão | contribs)

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É interessante que como dimensão do agir, temos sempre necessidade da presentificação do éthos, daí a tentação de querer transformar o éthos em moral, princípios, regras, normas. Ocorre que quando dizemos que o éthos é morada do ser, o que estamos afirmando, na verdade, é o éthos como limiar. Daí que ele, ao mesmo tempo que vige na dimensão do visível e sabível e querível e etc, se move também no não-visível, não-sabível, não-querível. O éthos é como tal o limiar, no sentido da medida das medidas, no sentido de que é o E insondável e abismal, pelo qual somos o entre-cruzamento de verticalidade e horizontalidade, o pérvio de toda tra-vessia. Essa é a morada do ser E não-ser, onde como lógos o éthos reúne na poíesis o velar e desvelar da phýsis.


- Manuel Antônio de Castro


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"Tò éthos é a postura, o porte do comportamento do homem frente à totalidade dos entes." (1)
"Por isso, podemos dizer, com algum direito, que o homem é aquele ente, em meio à totalidade dos entes, cuja essência se distingue pelo éthos." (2)
É interessante ver também a relação entre éthos e lógos. (3)


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 218.
(2) Idem, p. 228.
(3) Idem, pp. 225-7.


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Éthos nunca diz respeito a normas, como é o caso da moral ou dos costumes. Éthos é a abertura como tal, a partir da qual a phýsis se destina no homem sempre como a livre possibilidade de realizar a existência do agir como manifestação da phýsis/dzoé em seu sentido. Esta realização livre no aberto da abertura é a poíesis enquanto lógos. Por isso, o éthos é sempre co-letivo. Mas não podemos dizer que as formigas têm linguagem porque também cumprem tarefas coletivas. Nelas falta o éthos que dá um sentido livre à ação porque como éthos se realiza a partir da abertura que a própria phýsis destina no homem fazendo-o homem como éthos, lógos e poíesis. Aí homem só se pode ler como diálogo, como co-letividade, como linguagem. A língua de um só homem nunca existe. Por isso, mais que subjetividade, somos memória poética.


- Manuel Antônio de Castro