Desaprender
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 01h28min de 27 de Setembro de 2018 por Profmanuel (Discussão | contribs)
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- Alberto Caieiro, o poeta-pensador, já disse poeticamente o que é desaprender:
- Mas isto (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
- Isso exige um estudo profundo,
- Uma aprendizagem de desaprender . (Poema XXIV)
- Procuro despir-me do que aprendi,:
- Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
- E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos ... (Poema XLVI) (1)
´
- Isso é enigmático porque devemos aprender para desaprender, ter para renunciar, porque só renunciando chegamos a ser o que temos, porque só podemos ter o que somos e só podemos ser o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade entre ter e ser. Entra aí uma terceira dimensão nesse jogo dialético entre ter e ser, e ser e ter: o desprendimento, a renúncia, porque a renúncia não tira, dá. Nesse jogo dialético se torna também claro o jogo entre identidade e diferença. A identidade nos remete para o horizonte do fundar, do ser, do nada. Já a diferença nos mostra em que consiste o próprio, (ter), que só o nada, (ser), pode fundar. Enfim, toda aprendizagem é um desaprender.
2
- No filme Samsara, do diretor indiano Pan Nalin, há a seguinte fala do monge Tashi:
- Tem coisas que devemos "desaprender" para poder aprendê-las. E tem coisas que precisamos possuir para poder renunciar a elas (1)
- O monge budista Tashi está na dúvida se deve sair do mosteiro ou não, para poder realizar o desejo sexual pela mulher Pema, tomado que se sente pela libido sentiendi.
- (1) NALIN, Pan. Samsara, filme de 2002.
- Referência:
- (1) PESSOA, Fernando. Alberto Caeiro. S. Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 60, 84.