Permanência
De Dicionário de Poética e Pensamento
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Edição de 02h27min de 14 de março de 2009
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- Quando se fala do on na metafÃsica, geralmente, não se atenta para a questão que está no centro. Trata-se para o grego da questão da mudança e da permanência. A mudança é muito evidente. Mas o que é a permanência? Esta questão tem um fundo filosófico e ao mesmo tempo polÃtico. A pro-cura do substantivo e do subjectum se dá nesse âmbito, ou seja, mais especificamente, procura-se o con-ceito. Este vai estar ligado à verdade, que se vai opor à dóxa, à aparência. Mas esta se relaciona à mudança e, nesta, não há verdade. Por isso dóxa significa fundamentalmente opinião. Mas da opinião tratavam os sofistas. E aqui entra o aspecto polÃtico. Mas e o ontológico? Três questões vão estar ligadas a esta dimensão: Lógos, Techné, Poiesis. Entendê-las é entender as opções metafÃsicas nas quais os grandes pesadores Platão e Aristóteles nos lançam. Lógos, fundamentalmente, é o que perdura. Por isso, irá ser identificado com o fundamento e com o dizer. O verbo eÃro, de onde se originou depois a retórica, não terá esta dimensão, pois a retórica funda as opiniões, tendo perdido o seu caráter de um dizer "sagrado". Esse é substituÃdo pelo dizer do lógos. Por isso, este, enquanto dizer, como pro-posição, diz a verdade na medida em que é lógica. Mas, por outro lado, a verdade de uma tal lógica está ligada à pro-posição na sua constituição de sujeito e predicativo. Se bem observarmos, a verdade lógica sempre se deduz, desde que aceita a proposição constituÃda de sujeito e predicativo. Mas nesta o ser foi substituÃdo pelo substantivo. O que vai corresponder à verdade lógica é, por outro lado, o conhecimento técnico, ou seja, a techné é aquele conhecimento que permite o agir como permanência, não muda. A techné substitui o ser. Por isso, lógos e techné substituem a poÃesis, pois está ligada à ação e a ação não é o fundo da mudança? Para afirmar a permanência e a verdade silencia-se a poÃesis. Mas qual é a essência do agir enquanto poÃesis? É a mudança? Não. É mais. É um entre, é um acontecer-poético-apropriante. A filosofia abandonou a poÃesis e fica entre: techné, epistéme e mathesis. A epistemologia nunca se abre para a poÃesis, daà nunca conseguir se apropriar do própria da arte, reduzindo-a a conceitos, quando, na verdade, a arte é e será sempre questão, onde se dá sempre a essência do agir. Devemos pensar não só a ação, mas também a não-ação. Não podemos esquecer que Aristóteles se centraliza na questão do agir, e por isso nos joga nos enigmas da enérgeia e da dýnamis.
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- A mudança é visÃvel e evidente por si. A grande questão é a permanência. E então temos algumas palavras no pensamento para apreender este grande enigma: identidade, memória, o mesmo, razão, conceito, essência, sujeito, lei, necessidade, preciso, medido. Mas isso gerou e gera uma oposição excludente. Por isso, Hegel tentou reconciliar essa oposição com o método dialético-especulativo, que, em vista disso, pretende não ser um método instrumental-gnosiológico, mas ontológico, pois no conceito absoluto (método especulativo) não há mais dicotomia entre pensar e ser. Se tivermos em mente, no entanto, para reflexão o fragmento 123 de Heráclito: "a excessividade poética apropria-se no nada excessivo", percebemos que fica impensado em Hegel o kryptesthai, esse velar-se que nenhum conceito abrangerá, nem o vir-a-ser. No vir-a-ser devemos distinguir a negação como antÃtese que se re-flete e se torna espÃrito e o como do entre, em que acontece o kryptesthai. Heidegger faz desta questão a questão central do seu pensamento. E para isso repensa a questão da coisa, o que significa repensar a própria verdade e sentido do ser. Pensar o sentido é pensar o ser como questão, isto é, como verdade e não-verdade. Isso implica repensar a própria dinâmica e vigência do lógos como diá-logo. Esta dinâmica remete automaticamente para a tensão techné/poiesis e para a própria poiesis como integrante de phýsis, na dimensão da disputa originária da phýsis como desvelar e velar, ou seja, terra e mundo. Por isso, no § 110 de A origem da obra de arte (1), pensa-se a Verdade como Não-verdade, mas sem exclusão e oposição, e rejeita-se a solução de Hegel. Nesse aspecto, esse § é essencial. Por outro lado, o que aà não fica tematizado é a questão maior da poÃesis, que, como essência do agir, automaticamente inclui Mudança e Permanência. A poÃesis é, pois, o vigor de todos os termos com que se inicia esta ficha e que, como poÃesis, inclui ação e não-ação, mas onde este não indica in-ação. Esse é o enigma da poÃesis, da arte, da própria linguagem, pois todos os termos citados só vigem como questão na dimensão da linguagem, daà estar associada a lógos, interpretado como razão, quando o mais indicado é associar linguagem a poÃesis. Esta é na vigência da phýsis a identidade máxima, o vigor da própria identidade enquanto a diferença das diferenças.
- Referências:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Manuel Antonio de Castro e Idalina Azevedo da Silva. AcessÃvel em: Travessia Poética estritamente para uso acadêmico.