Desaprender

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Isso é [[enigmático]] porque devemos [[aprender]] para [[desaprender]], [[ter]] para [[renunciar]], porque só renunciando chegamos a [[ser]] o que temos, porque só podemos [[ter]] o  que somos e só podemos [[ser]] o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade [[entre]] [[ter]] e [[ser]]. Entra aí uma terceira [[dimensão]] nesse [[jogo]] dialético [[entre]] [[ter]] e [[ser]], e [[ser]] e [[ter]]: o [[desprendimento]], a [[renúncia]], porque a [[renúncia]] não tira, dá. Nesse [[jogo]] [[dialético]] se torna também claro o [[jogo]] [[entre]] [[identidade]] e [[diferença]]. A [[identidade]] nos remete para o [[horizonte]] do [[fundar]], do [[ser]], do [[nada]]. Já a [[diferença]] nos mostra em que consiste o [[próprio]], (ter), que só o [[nada]], (ser), pode [[fundar]]. Enfim, toda [[aprendizagem]] é um [[desaprender]].
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: No filme ''Samsara'', do diretor indiano Pan Nalin, há a seguinte fala do monge Tashi:
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: ''Tem coisas que devemos "[[desaprender]]" para poder aprendê-las. E tem coisas que precisamos [[possuir]] para poder [[renunciar]] a elas'' (1)
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: O monge budista Tashi está na [[dúvida]] se deve sair do mosteiro ou não, para poder [[realizar]] o [[desejo]] sexual pela mulher Pema, tomado que se sente pela ''libido sentiendi''.
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: (1) NALIN, Pan. ''Samsara, filme de 2002.
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Edição de 01h27min de 27 de Setembro de 2018

1

Alberto Caieiro, o poeta-pensador, já disse poeticamente o que é desaprender:


Mas isto (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender . (Poema XXIV)
Procuro despir-me do que aprendi,:
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos ... (Poema XLVI) (1)

´

Isso é enigmático porque devemos aprender para desaprender, ter para renunciar, porque só renunciando chegamos a ser o que temos, porque só podemos ter o que somos e só podemos ser o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade entre ter e ser. Entra aí uma terceira dimensão nesse jogo dialético entre ter e ser, e ser e ter: o desprendimento, a renúncia, porque a renúncia não tira, dá. Nesse jogo dialético se torna também claro o jogo entre identidade e diferença. A identidade nos remete para o horizonte do fundar, do ser, do nada. Já a diferença nos mostra em que consiste o próprio, (ter), que só o nada, (ser), pode fundar. Enfim, toda aprendizagem é um desaprender.
-Manuel Antônio de Castro.


2

No filme Samsara, do diretor indiano Pan Nalin, há a seguinte fala do monge Tashi:


Tem coisas que devemos "desaprender" para poder aprendê-las. E tem coisas que precisamos possuir para poder renunciar a elas (1)
O monge budista Tashi está na dúvida se deve sair do mosteiro ou não, para poder realizar o desejo sexual pela mulher Pema, tomado que se sente pela libido sentiendi.
(1) NALIN, Pan. Samsara, filme de 2002.


Referência:
(1) PESSOA, Fernando. Alberto Caeiro. S. Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 60, 84.
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