Entre

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.  In: ''Ensaios e conferências''. Petropólis: Vozes, 2002, pp. 165-181 (especialmente no § 15 e seguintes. Sobre o lugar central do "entre" ver p. 172, § 1).
:(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.  In: ''Ensaios e conferências''. Petropólis: Vozes, 2002, pp. 165-181 (especialmente no § 15 e seguintes. Sobre o lugar central do "entre" ver p. 172, § 1).
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:O entre preside a mais radical dimensão do real, isto é, do ser e não-ser. Certamente, ele está claro no fragmento 123 de Heráclito: Physis kryptestai philei - A physis ama velar-se, em que o "entre" corresponde ao philei, pois significa: ama, ou seja, o apropriar-se do que é próprio. O [[amor]] é o vigor do "entre".
== Ver também ==
== Ver também ==
*[[Medida]]
*[[Medida]]

Edição de 03h10min de 15 de janeiro de 2009

Tabela de conteúdo

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O entre, ao nos projetar nos interstícios da liminaridade, se desdobra em duas facetas. A primeira é a tensão. Esta indica a questão da harmonia como tensão de opostos, mas onde estes opostos de alguma maneira se manifestam, ora se dando um, ora se dando outro. Enquanto tensão de opostos na manifestação do "entre" como harmonia, é que podemos falar de complementaridade. Por exemplo, dia e noite, onda e partícula, mito e rito, masculino e feminino, apolínio e dionisíaco etc. A segunda faceta é a disputa. Esta já indica o "entre" na sua radicalidade, onde não há complementaridade, porque esta sempre se refere à ordem do manifestável. Na disputa há muito mais do que tensão. Nela comparece o próprio abismo. Seu exemplo fundamental é vida e morte. Não dá para saber o que é morte. Ninguém voltou para dizer a sua experienciação. Nela, não há complementaridade nenhuma, pois esta, em-si, se funda na negação. Já a disputa funda a tensão, mas não o contrário, porque tal fundar é abismal. É a morte. Outro exemplo é mundo e terra. Outro é nada e ente. Outro é silêncio e voz. Enfim é o vazio e a teia. Por mais que a teia se expande tanto mais o vazio a concerne, cerca, funda e se retrai. O pensamento oriental fala de dezoito modos do vazio. Há, portanto, aí uma disputa e não simplesmente uma tensão. Na disputa, o próprio "entre" se vê engolfado pelo nada. É o silêncio misterioso de Édipo no final da tragédia "Édipo em Colona". Para entender o engolfar o "entre", pelo nada, é necessário ter em mente que o "entre" é a própria presença do nada em seu mistério. No fragmento 123: physis kryptesthai philei, de Heráclito, a physis manifestada pode ser onda e/ou partícula, mas o kryptesthai, não. Este é abismal, o silêncio que funda e possibilita toda voz, toda presença, toda manifestação.

2

"Somente no âmbito do esforço é que o homem se esforça por "méritos". Somente assim ele consegue tantos méritos. Mas justamente nesse esforço e por esse esforço concede-se ao homem levantar os olhos para os celestiais. Não obstante esse levantar os olhos percorra toda direção acima rumo ao céu, permanece no abaixo da terra. Esse levantar os olhos mede o entre céu e terra. Esse entre possui uma medida comedida e ajustada ao habitar do homem. Chamaremos de dimensão a medida comedida, aberta através do entre céu e terra" (1).
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 172.

3

A questão da medida surge naturalmente ao homem pelo simples fato de que ele se experiencia como homem na medida da sua liminaridade. Mas se há, e há, liminaridade, qual a sua medida? Na realidade, a questão colocada diz do próprio do ser humano. E perguntar pela medida da liminaridade, ou seja, do próprio do ser humano, é perguntar pelo "entre". Este, como medida, radica na dupla tensão de distância e proximidade e de humanos e divinos e de Céu e Terra. É nesse sentido de tensão que o "entre" é medida. O que então é medida? Reflete-se a respeito profundamente no ensaio referido.


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Petropólis: Vozes, 2002, pp. 165-181 (especialmente no § 15 e seguintes. Sobre o lugar central do "entre" ver p. 172, § 1).

4

O entre preside a mais radical dimensão do real, isto é, do ser e não-ser. Certamente, ele está claro no fragmento 123 de Heráclito: Physis kryptestai philei - A physis ama velar-se, em que o "entre" corresponde ao philei, pois significa: ama, ou seja, o apropriar-se do que é próprio. O amor é o vigor do "entre".

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