Tékhne

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 15h25min de 5 de Abril de 2009 por Patricia Marouvo (Discussão | contribs)

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A questão da tékhne é semelhante à do lógos. Da densidade e complexidade em Heráclito passa-se, na Modernidade, ao sentido reduzido de razão. Com a linguagem também ocorre algo semelhante. Enquanto palavra divina, tem em si todo vigor de verdade manifestativa. Contudo, hoje na Linguística e nos meios de comunicação ficou reduzida a um simples instrumento. Isso ocorreu na medida em que a proposição com o sujeito e o predicado toma o centro do dizer e a verdade se torna proposicional, ou seja, depende do juízo. É esta verdade e esta predominância da proposição que permite a redução da linguagem à instrumentalidade. Ora, com a tékhne ocorre o mesmo. Mas aí se deu o seu alcance na mesma proporção em que a proposição substitui a palavra. A proposição não apenas enuncia uma verdade, mas também um conhecimento. A junção de conhecimento e verdade racional acabam por instituir a tékhne instrumental, ou seja, proposicional e racional. Contudo, há uma tékhne ligada à poíesis. E esta é a que se dá propriamente na obra-de-arte. Com a poíesis ocorre o mesmo: originariamente vigor do dizer da palavra, sendo, na proposição, o lugar de ação, assumida pelo sujeito, e então se reduz a um simples "dizer" dos fonemas. Isto só é possível porque tékhne, lógos e poíesis já contêm em si esta possibilidade reducionista, assim como cada coisa, cada ente contém em si a ideia, mas silencia sempre o que é essencial: o velamento.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:

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"Produzir, em grego, é tikto. A raiz tec desse verbo é comum à palavra tékhne. Tékhne não significa, para os gregos, nem arte, nem artesanato, mas um deixar-aparecer algo como isso ou aquilo, dessa ou daquela maneira, no âmbito do que já está em vigor. Os gregos pensam a tékhne, o produzir, a partir do deixar-aparecer" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, pp. 138-9.

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"O que significa techné quando dizemos que está intimamente aparentada com a episteme? Techné conecta-se com a raiz techo, tichto - traduzida comumente por "procriar". O que se procria é to technon, a criança: tichto significa procriar e criar na acepção de parir, dar à luz, onde predomina o segundo significado. Nossa língua materna tem uma locução bonita e ainda impensada para exprimir o parir da procriação, que é 'colocacar no mundo' [procurar em Rosa]. O sentido grego mais próprio e mais velado de 'techo não é o fazer e aprontar [produto], mas o conduzir alguma coisa para o desencobrimento como o que foi trazido, como o que aparece ao partir de... como o que 'é', em sentido grego. O techton é o pro-dutor, aquele que pro-cede a partir de... e para... A partir do desencoberto para o aberto. O homem realiza esse procedimento pro-dutor na construção, no entalhe, na formação. A palavra 'arquiteto' traz ho techton. Do ponto de vista do projeto, a pro-dução de um templo orienta-se, a partir do arquiteto e pelo arquiteto, enquanto arché de um techein (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio: Delume Dumará, 1998, p. 213.
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