Possibilidade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Há a tendência a pensar o [[Ser]] como a possibilidade, bem na linha de Aristóteles e da ''dýnamis'', embora não se tematize essa ''dýnamis'' em toda a sua complexidade. Heidegger faz alusão ao [[real]] como possível no posfácio a "A coisa". Diz: "Ser não se contrapõe, de forma alguma, ao não-mais-ser e ao ainda-não-ser. Tanto o não-mais-ser como o ainda-não-ser pertencem ao vigor do ser. A própria [[metafísica]], de algum modo, já intui um pouco disso na sua tão pouco compreendida doutrina das modalidades. Segundo a doutrina metafísica das modalidades, ao ser pertence não só a realidade e necessidade como também possibilidade." (1) O essencial é voltar a Parmênides e pensar a ''phýsis'' como: ''on'', ''me-on'', ''dóxa'' e ''noein''. Neste sentido, falar de real é sempre pensar o apelo do ser enquanto o ter-sido já desvelado velando-se: ''[[alétheia]]'', ''[[lógos]]'', ''[[phýsis]]. Ou o fragmento 123 de Heráclito: ''phýsis kryptestai phílei'': a excessividade poética apropria-se no nada excessivo. Devemos, pois, distinguir a possibilidade do ''on'' e a possibilidade do "kryptestai", do nada excessivo.  
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:Há a tendência a pensar o [[Ser]] como a possibilidade, bem na linha de Aristóteles e da ''dýnamis'', embora não se tematize essa ''dýnamis'' em toda a sua complexidade. Heidegger faz alusão ao [[real]] como possível no posfácio a "A coisa". Diz: "Ser não se contrapõe, de forma alguma, ao não-mais-ser e ao ainda-não-ser. Tanto o não-mais-ser como o ainda-não-ser pertencem ao vigor do ser. A própria [[metafísica]], de algum modo, já intui um pouco disso na sua tão pouco compreendida doutrina das modalidades. Segundo a doutrina metafísica das modalidades, ao ser pertence não só a realidade e necessidade como também possibilidade" (1). O essencial é voltar a Parmênides e pensar a ''phýsis'' como: ''on'', ''me-on'', ''dóxa'' e ''noein''. Neste sentido, falar de real é sempre pensar o apelo do ser enquanto o ter-sido já desvelado velando-se: ''[[alétheia]]'', ''[[lógos]]'', ''[[phýsis]]. Ou o [[fragmento]] 123 de Heráclito: ''phýsis kryptestai phílei'': a excessividade poética apropria-se no nada excessivo. Devemos, pois, distinguir a possibilidade do ''on'' e a possibilidade do ''kryptestai'', do nada excessivo.  

Edição de 12h04min de 23 de março de 2009

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Há a tendência a pensar o Ser como a possibilidade, bem na linha de Aristóteles e da dýnamis, embora não se tematize essa dýnamis em toda a sua complexidade. Heidegger faz alusão ao real como possível no posfácio a "A coisa". Diz: "Ser não se contrapõe, de forma alguma, ao não-mais-ser e ao ainda-não-ser. Tanto o não-mais-ser como o ainda-não-ser pertencem ao vigor do ser. A própria metafísica, de algum modo, já intui um pouco disso na sua tão pouco compreendida doutrina das modalidades. Segundo a doutrina metafísica das modalidades, ao ser pertence não só a realidade e necessidade como também possibilidade" (1). O essencial é voltar a Parmênides e pensar a phýsis como: on, me-on, dóxa e noein. Neste sentido, falar de real é sempre pensar o apelo do ser enquanto o ter-sido já desvelado velando-se: alétheia, lógos, phýsis. Ou o fragmento 123 de Heráclito: phýsis kryptestai phílei: a excessividade poética apropria-se no nada excessivo. Devemos, pois, distinguir a possibilidade do on e a possibilidade do kryptestai, do nada excessivo.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 161.