Clareira

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 20h43min de 29 de março de 2009 por Andre (Discussão | contribs)

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"Descobrindo o sublime no trivial, o invisível sob o tangível - ela própria toda desarmada como se tivesse naquele momento sabido que sua capacidade de descobrir os segredos da vida natural ainda estivesse intacta. E desarmada também pela leve angústia que lhe veio ao sentir que podia descobrir outros segredos, talvez um mortal. Mas sabia que era ambiciosa: desprezaria o sucesso fácil e quereria, mesmo com medo, subir cada vez mais alto ou descer cada vez mais baixo" (1).


Referências:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 73.

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"O destino se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do "Da" (lugar), mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar".


Referências:
HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967, p. 61.

Ver também


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Martin Heidegger trata da CLAREIRA, acentuando a dupla ocultação, a dupla reserva.


Referências:
HEIDEGGER, Martin. O fim da filosofia e a tarefa do pensamento. In: Os pensadores. Martin Heidegger. S. Paulo, Abril Cultural, 1979.
__________. A origem da obra de arte. Tradução de Manuel Antônio de Castro e Idalina Azevedo da Silva. Acessível para consulta estritamente acadêmica em: www.travessiapoetica.blogspot.com, §§ 104-112.
__________. Os pensadores. Os pré-socráticos. A sentença de Anaximandro. São Paulo, Abril Cultural, 1978, p.32-33.
LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Saussure e Holderlin" in: Aprendendo a pensar I. Petrópolis, Vozes, 1977.


Ver também

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Heidegger dedica uma atenção profunda e ampla à questão da verdade, pois é nela que se decide e constrói o projeto do pensamento metafísico ocidental. Porém, Heidegger se centraliza na palavra grega alétheia. Traduzida normalmente como verdade. O pensador prefere traduzi-la por desvelamento. Este é, inicialmente, o on vindo à sua presença. Porém, se ficasse só no desvelamento ainda estaria se limitando à predominância do pensamento metafísico, que se constrói em cima da presença e da luz, sintetizado na questão motriz para Platão: eidos, que origonou a palavra portuguesa ideia. Não podemos esquecer que para os gregos a grande e permanente questão é o permanecer. Então Heidegger vai refletir sobre a possibilidade do on aparecer como o que aparecendo se faz presente. E é então que surge a questão da clareira. Esta não foi pensada pela filosofia e, por isso, quando a filosofia chega ao fim e é substituída pela ciência, a questão da clareira passa a ser a questão da filosofia. Mas então, enquanto a questão do pensamento que é, a filosofia se torna um questionar enquanto pensar. E a questão não é mais simplesmente o on enquanto o que se faz presente, mas a clareira, ou seja, o livre aberto. Como possibilidade de aparecimento, a presença do on, ou seja, da clareira, como o lugar tanto do desvelar como do velar. Diz Heidegger: "o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista lingüístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo "luminoso", que significa "claro" ". (1) O núcleo central do ensaio é a questão da clareira.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "O fim da filosofia e a tarefa do pensamento". In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 79.

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"Porque na clareira e só na clareira a luz da visão pode aparecer como luz e como visão. A luz não é a clareira. Pressupõe-na. Na clareira não há só luz, há também sombras. O raio que risca brilhando só o pode fazer porque brilha no aberto livre da clareira. Não vemos a partir da visão, vemos com a visão a partir do aberto livre da clareira" (1).
Referência
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Poiesis, sujeito e metafísica”. In: --- (org). A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7letras, 2004, p. 33.