Horizonte

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Três observações importantes: primeira, o horizonte como limite e linha instável de visão e não-visão deve ter como contrapartida o finito e o não-finito. Esta tensão é melhor que in-finito, porque esta idéia de infinito tende a anular a densidade e pregnância do finito. O infinito como fundamento, como eternidade, como idéia absoluta tende a anular a tensão e o "valor" do finito e da própria morte. Segunda observação: é preciso pensar o horizonte dentro do círculo hermenêutico. No círculo se dá a mesma tensão: o início é, ao mesmo tempo, o fim. Terceira, é preciso pensar nos dois pólos de pensamento com a fala e escuta, correlatar a voz e silêncio. Esta tensão remete para a música e nos apresenta o "real" como devir, mas não mais lido no sentido do que flui e coninuamente passa, mas no sentido de "physis" como o que se presentifica/doa ao mesmo tempo que se vela/preserva, resguarda. Este preservar/resguardar afirma a diferença da diferença. Em toda doação/presentificação se afirma o que é como diferença, mas, na medida em que toda presentificação implica uma reserva/resguardo, há a diferença da diferença, ou a diferença de toda identidde-diferença. Isto tudo remete para outra tensão: floresta/clareira/luz/não-luz, em que luz/não-luz manifestam dimensões da clareira/floresta. A verdade precisa ser apreendida e compreendida na tensão, floresta/clareira, aparecendo, portanto, também como não-verdade. Já a dimensão desta tensão luz/não-luz, gera a possibilidade da aparência como engano e essência frente ao ocultamento manifestado pela não-luz, que não é o ocultamento da reserva e resguardo, da floresta como vigor de toda clareira. Toda clareira já traz em si a possibilidade como aparência, ao lida e apreendida, na dimensão da luz, que em si é o claro da clareira, mas não é a clareira. Há, pois, um duplo ocultamento na dinâmica do ser, não-ser e aparecer. Toda essa dinâmica é o logos/linguagem. LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Poesia e pensamento". In: Cadernos de Letras, 16, Faculdade de Letras/UFRJ, Departamento de Letras Anglo-Germânicas, 2001.  
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:Três observações importantes: primeira, o horizonte como limite e linha instável de visão e não-visão deve ter como contrapartida o finito e o não-finito. Esta tensão é melhor que in-finito, porque esta idéia de infinito tende a anular a densidade e pregnância do finito. O infinito como fundamento, como eternidade, como idéia absoluta tende a anular a tensão e o "valor" do finito e da própria morte. Segunda observação: é preciso pensar o horizonte dentro do círculo hermenêutico. No círculo se dá a mesma tensão: o início é, ao mesmo tempo, o fim. Terceira, é preciso pensar nos dois pólos de pensamento com a fala e escuta, correlatar a voz e silêncio. Esta tensão remete para a música e nos apresenta o "real" como devir, mas não mais lido no sentido do que flui e coninuamente passa, mas no sentido de "physis" como o que se presentifica/doa ao mesmo tempo que se vela/preserva, resguarda. Este preservar/resguardar afirma a diferença da diferença. Em toda doação/presentificação se afirma o que é como diferença, mas, na medida em que toda presentificação implica uma reserva/resguardo, há a diferença da diferença, ou a diferença de toda identidde-diferença. Isto tudo remete para outra tensão: floresta/clareira/luz/não-luz, em que luz/não-luz manifestam dimensões da clareira/floresta. A verdade precisa ser apreendida e compreendida na tensão, floresta/clareira, aparecendo, portanto, também como não-verdade. Já a dimensão desta tensão luz/não-luz, gera a possibilidade da aparência como engano e essência frente ao ocultamento manifestado pela não-luz, que não é o ocultamento da reserva e resguardo, da floresta como vigor de toda clareira. Toda clareira já traz em si a possibilidade como aparência, ao lida e apreendida, na dimensão da luz, que em si é o claro da clareira, mas não é a clareira. Há, pois, um duplo ocultamento na dinâmica do ser, não-ser e aparecer. Toda essa dinâmica é o logos/linguagem.
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Cf. LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Poesia e pensamento". In: Cadernos de Letras, 16, Faculdade de Letras/UFRJ, Departamento de Letras Anglo-Germânicas, 2001.
== Ver também ==
== Ver também ==

Edição de 16h46min de 28 de Dezembro de 2008

Tabela de conteúdo

1

Pelo horizonte tem-se "a elaboração de uma estrutura e a abertura de uma coalescência de inesgotável indeterminação".


Referência:
SOUZA, Ronaldes de Melo e. "Introdução à poética da ironia". In: Linha de pesquisa - Revista de Letras da UVA, Ano I, No. 1, out. de 2000, pp. 33-34.


2

Todo enigma e imprecisão do limite se expressa bem no termo horizonte, do grego horidzo, que significa limitar. E esse enigma vê-se bem numa pergunta: "Como caminhar até a linha do horizonte?". No entanto, só podemos, para ser, fazer isso cotidianamente, utopicamente.


3

Foi um termo lançado por Husserl, mas que ainda é, em sua obra, um conceito empírico fenomenológico. Heidegger o re-elaborou dando-lhe uma dimensão transcendental a priori. Está relacionado à pergunta e ao saber e ao não-saber-ciente.


Referência:
HUMMES, Cláudio. "Metafísica". Mimeo, 1963, p. 46. Acessível em: Travessia Poética.

4

Quando se considera a questão do horizonte em toda a sua amplitude vai aparecer uma das características de Hermes: o deus das encruzilhadas. Ora, essas encruzzilhadas são tanto as do horizonte (vertical e horizontal) como as de limite e não-limite, verdade e não-verdade, ser e não-ser. Por isso, o ser humano é ser-entre (Dasein) e seu percurso se dá no discurso da tra-vessia. Ele é um ser-em-travessia como entre-ser, na liminaridade do horizonte.

5

Refletir sobre o horizonte é trazer para cena a questão da visão. Conferir essa temática nos cantos de Rosa: "Nada e a nossa condição", de Primeiras estórias, e "Quadrinho de estória" de Tutaméia. Tanto num canto como noutro aparecem as palavras "horizonte" e "visão", ou seja, a temática do ver, relacionada e se movendo no horizonte: "Sejam quais o sol e céu, a palavra horizonte é cura." Porque horizonte diz limite e limiar. Cf. "Quadrinho de estória", in: ROSA, João Guimarães. Tutaméia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p. 124.

6

A imagem do horizonte é muito fértil e está ligada a muitos aspectos: visibilidade, forma, idéia, aspecto, limite, luz etc. Mas há dois aspectos que são fundamentais e que podem ficar obscuros: a ação e o caminho. A ação é fundamental para delinear a visibilidade em horizonte etc. Já o caminho implica não só o percurso que cada um faz, mas também a sua ligação histórica, e isto é o que significa propriamente história. Diz Rimbaud: "Poderá sucumbir no embate com as coisas inauditas, indizíveis, outros trabalhadores virão! Principiarão nos horizontes onde esse se malograr" RIMBAUD, Arthur apud GRASSI, Ernesto. Arte e mito. Lisboa: Livros do Brasil, s.d., p. 174.

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Três observações importantes: primeira, o horizonte como limite e linha instável de visão e não-visão deve ter como contrapartida o finito e o não-finito. Esta tensão é melhor que in-finito, porque esta idéia de infinito tende a anular a densidade e pregnância do finito. O infinito como fundamento, como eternidade, como idéia absoluta tende a anular a tensão e o "valor" do finito e da própria morte. Segunda observação: é preciso pensar o horizonte dentro do círculo hermenêutico. No círculo se dá a mesma tensão: o início é, ao mesmo tempo, o fim. Terceira, é preciso pensar nos dois pólos de pensamento com a fala e escuta, correlatar a voz e silêncio. Esta tensão remete para a música e nos apresenta o "real" como devir, mas não mais lido no sentido do que flui e coninuamente passa, mas no sentido de "physis" como o que se presentifica/doa ao mesmo tempo que se vela/preserva, resguarda. Este preservar/resguardar afirma a diferença da diferença. Em toda doação/presentificação se afirma o que é como diferença, mas, na medida em que toda presentificação implica uma reserva/resguardo, há a diferença da diferença, ou a diferença de toda identidde-diferença. Isto tudo remete para outra tensão: floresta/clareira/luz/não-luz, em que luz/não-luz manifestam dimensões da clareira/floresta. A verdade precisa ser apreendida e compreendida na tensão, floresta/clareira, aparecendo, portanto, também como não-verdade. Já a dimensão desta tensão luz/não-luz, gera a possibilidade da aparência como engano e essência frente ao ocultamento manifestado pela não-luz, que não é o ocultamento da reserva e resguardo, da floresta como vigor de toda clareira. Toda clareira já traz em si a possibilidade como aparência, ao lida e apreendida, na dimensão da luz, que em si é o claro da clareira, mas não é a clareira. Há, pois, um duplo ocultamento na dinâmica do ser, não-ser e aparecer. Toda essa dinâmica é o logos/linguagem.

Cf. LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Poesia e pensamento". In: Cadernos de Letras, 16, Faculdade de Letras/UFRJ, Departamento de Letras Anglo-Germânicas, 2001.

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