Desaprender

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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     Isso exige um estudo profundo,
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     Uma '''[[aprendizagem]] de [[desaprender]]''' . (Poema XXIV)
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     Procuro despir-me do que aprendi,:
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     Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
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: [[Manuel Antônio de Castro]].

Edição de 22h09min de 25 de Junho de 2018

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"Alberto Caieiro, o poeta-pensador, já o disse poeticamente:
    "Mas isto (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
    Isso exige um estudo profundo,
    Uma aprendizagem de desaprender . (Poema XXIV)
    Procuro despir-me do que aprendi,:
    Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
    E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos ... (Poema XLVI)" (1)

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Isso é enigmático porque devemos aprender para desaprender, ter para renunciar, porque só renunciando chegamos a ser o que temos, porque só podemos ter o que somos e só podemos ser o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade entre ter e ser. Entra aí uma terceira dimensão nesse jogo dialético entre ter e ser, e ser e ter: o desprendimento, a renúncia, porque a renúncia não tira, dá. Nesse jogo dialético se torna também claro o jogo entre identidade e diferença. A identidade nos remete para o horizonte do fundar, do ser, do nada. Já a diferença nos mostra em que consiste o próprio, (ter), que só o nada, (ser), pode fundar. Enfim, toda aprendizagem é um desaprender.
Manuel Antônio de Castro.


Referência:
(1) PESSOA, Fernando. Alberto Caeiro. S. Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 60, 84.
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