Ser

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 18h41min de 9 de janeiro de 2009 por Bianka (Discussão | contribs)

Tabela de conteúdo

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"Existe o ente como algo subsistente, mas não há o ente". (Esta afirmação não fica clara porque não fica clara a diferença entre "existe" e "há", a não ser que entendamos este "há" como o "dá-se" ou es gibt", como afirma logo a seguir. O ente não se dá "existe como algo subsistente"). Eis a continuação da citação: "Há (es gibt) o ser, e não simplesmente o ente. O ser não é senão o acontecimento em que o ente se apropria na patência do desvelamento e se desapropria na latência, do velamento. Se não se compreende a duplicidade originária do particípio eón como o apropriar-se ontofânico (Ereignis) e, ao mesmo tempo, como o desapropriar-se criptofânico (Enteignis) jamais se apreende o sentido do ser".


Referência:
(1) SOUZA, Ronaldes de Melo e. O saber em memória do Ser. In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: Nº 95, out.-dez., 1988, p. 15.


2

Ser: viver, surgir, permanecer. Estes sentidos correspondem às três raízes que aparecem no verbo ser (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 97 e 98.


3

Cf. LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 143.


4

"... revela-se que o Ser é o encanto das Vozes (isto é, as Musas) e as Musas não são outra coisa que a múltipla Presença do Divino" (1). "... relação entre linguagem e ser, ou seja: entre o Canto em seu encanto e a aparição do que se canta, e consweqüentemente entre a Revelação (aletheia) e o Esquecimento (lesmosyne/lethe)" (2). "A rigor, n. há na Teogonia uma relação entre linguagem e ser, mas uma imanência recíproca entre eles" (3).


Referência:
(1) TORRANO, JAA. "Introdução". In: Hesíodo. Teogonia. Trad. JAA Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 28.
(2) Idem, p. 29.
(3) Idem, p. 29.


5

"Não basta ter conhecimentos é preciso ser o que se conhece". Há aqui uma tensão entre ser e ter. Emmanuel Carneiro Leão trata da questão do ter no ensaio "Leitura órfica de uma sentença grega" (1). Trata-se do "ter linguagem". Em que sentido se emprega o "ter"? Diz Márcia: " "Ser" homem para o grego é "ter" logos... Ser homem para o grego significa, sobretudo, estar na disposição do logos. De modo algum, o homem "tem" logos como uma propriedade dada genética, natural. Tem o logos enquanto uma disposição para empenhar-se pelo logos". Ver todo o restante da passagem.
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992.
(2) SCHUBACK, Márcia S.C. "As cordas serenas de Ulisses". In: Ensaios de filosofia. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 174.


6

Ao enigma que é o ser podemos chegar por quatro vias, todas integradas na questão da liminaridade: a) como horizonte, quando no visível o ser humano já desde sempre se lança para o invisível. Mas esse movimento de ver o não-visível do visível, sempre se dá num movimento incessante inerente a toda questão, articulando tanto mais um ver quanto mais se lança no não-ver. O ser humano é convocado pela questão do não-ver. b) Como saber, quando, como pergunta, pergunta porque não sabe e quer saber o não-saber, mas, ao mesmo tempo, só pode perguntar porque já sabe o não-saber. E, por isso, o ser humano é convocado pela questão do não-saber. c) Como querer, quando como desejo quer isto e aquilo. Mas isto e aquilo é uma posse e não o poder da posse das possibilidades. Por isso, isto e aquilo não satisfazem o desejo. O desejo não é disto ou aquilo enquanto fosse posse disto ou daquilo. O desejo é sempre poder a posse de todas as possibilidades. O ser humano é convocado pela questão do não-querer. Só esta posse faz o ser humano feliz, ou seja, responde e corresponde ao seu querer/desejar. d) Como ser, quando como questão pergunta. E o que pergunta: o que é isto? O que é aquilo? Mas ao perguntar por isto e aquilo, no fundo, não pergunta por isto e aquilo enquanto ente, mas sempre e já a partir do ser, senão nem poderia perguntar. Contudo toda pergunta, pergunta pelo ser na dimensão verbal do ente enquanto não-é: o que é, o que foi, o que será? Por isso a resposta da questão será sempre no plano do ente, recolocando a questão do não-ser. O ser humano, contudo, é sempre convocado pela questão do ser, na dimensão do ver, do saber, do querer e do não-ser. Este é o enigma do ser humano que sempre se dimensiona na questão porque nela ele se mede como ente na medida do ser por não-ser. A questão antes de ser perguntada já nos ultrapassa. Ela é a desmedida de toda medida da pergunta por, sobre e com.


7

"Ser não pode ser. Se fosse (ser) não mais permaneceria ser, mas seria ente".


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. In: A tese de Kant sobre o ser. São Paulo: Duas Cidades, 1970, p. 95.


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O estar é "o como" do ser. Na medida em que "o como" é a alétheia é-lhe inerente como "entre" a errância, ou seja "o como é" de desvelamento e velamento. A errância não é o "erro" nem o que passa, mas "o que é" como tempo se torna o enigma da reunião de presentificado no presentificante do presentificável. Neste vir-a-ser acontece o "estar". Na realidade, pela raiz verbal, "isto" indica o que surge permanentemente na clareira, tomando posição. O ser é também estar, mas é tanto mais estar quanto mais é não-estar, isto é, velar-se, retrair-se, silenciar.


9

"Ser e pensar unem e trazem consigo o mundo e a physis como possibilidade de constituição de uma espácio-temporalidade que se estrutura para além do domínio das realizações, mas também o mundo e a physis como espácio-temporalidade de constituição da realidade do ser como desvelamento".


Referência:
JARDIM, Antônio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 62.


Ver também