Sabedoria

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 20h59min de 30 de Dezembro de 2008 por Bianka (Discussão | contribs)

Tabela de conteúdo

Escuta/Logos

Cf. HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio: Relume Dumará, 1998, pp. 395-7. Trata do saber em sentido originário e a partir da interpretação dos fragmentos de Heráclito. Questões correlacionadas são: "medida/desmedida", "proximidade". Esse saber é aquele que não provém do cálculo e dos procedimentos próprios do homem, mas surgem quando o homem obedece à ausculta do logos. O ser sábio é propriamente o corresponder do ser humano ao logos, porque nele se pode dar a colheita e acolhida enquanto escuta obediente. As múltiplas traduções do logos existentes apenas devem acentuar o seu mistério e nos levar decididamente à escuta obediente, isto é, ao obedecer à escuta da fala do logos. Então acontece a sabedoria.


Logos

Sabedoria é uma postura essencial, mas não podemos confundi-la com um sistema de valores. Daí a profundidade de Heráclito quando diz sobre a sabedoria: "Pensar é a maior coragem, e a sabedoria, acolher a verdade e fazer com que se ausculte ao longo do vigor." (1)
Referência:
(1) HERÁCLITO. Os pensadores originários. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 89.


Não-saber

"Você sabe que podemos voar com asas: ainda não aprendemos a voar sem elas. Já nos familiarizamos com a sabedoria dos que sabem, mas ainda não nos familiarizamos com a sabedoria dos que não sabem". (1)
Referência:
(1) METON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 72.


Nada

"O auge da sabedoria não é o não saber do saber mas o saber do não saber". (1) Mas logo a seguir faz uma observação que aprofunda essa definição de sabedoria, na medida em que questiona o poder do saber enquanto este não pode saber o que é o NADA. Diz: "Com tanto poder, o Saber só não pode não saber que não sabe o que é Nada!" (2) Esta formulação é ambígua.
Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar I. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 184.
(2) Idem, p. 184.

Liberdade

É um tema muito rico, diz respeito à Poética e Pensamento. Há aí uma relação muito grande entre a possibilidade de a virtude se ensinar, a questão da liberdade e a essência da sabedoria. Ética, sabedoria, liberdade e natureza se interrelacionam profundamente, mas Heidegger vai levar isto tudo para o campo do ser, enquanto verdade e sentido. A essência da sabedoria e da liberdade estão sintetizadas na misteriosa afirmação de Sto. Agostinho: "Ama e faze o que quiseres."


Ético

A questão da sabedoria é fundamental. Ela é inerente ao mito, à religião, à arte, à filosofia. Nesta, toma uma forma especial: a ética, que não deve ser confundido com o ético. Este é inerente ao mito, ao sagrado, à arte e ao pensamento. Depois toma o sentido geral de humanismo. Na filosofia pós-clássica tende a se tornar um saber. Mas já na própria filosofia há a crítica em torno do saber, gerando a epistemologia e também os saberes setoriais como o da natureza e das paixões. Mas só no Renascimento se dá uma cisão maior, quando os saberes filosófico-científicos se separam dos ditos saberes metafísicos. Aqueles, além de racionais, asumem uma dimensão nitidamente físico-matemática, abarcando campos de conhecimento sem uma preocupação de sabedoria. Essa evolução tem enormes conseqüências para o mito que é negado, para a religião, que é negada (morte de Deus) e para a arte, onde a crítica assume uma faceta científica, destruindo na arte aquilo que lhe é próprio. Isto gerou uma indagação de Harold Bloom: "Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está s sabedoria?" (1) Há na tecnociência uma incompatibilidade com a sabedoria, daí a dificuldade de lhe atribuir um sentido ético.
Referência:
(1) BLOOM, Harold. Como e por que ler? Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15.


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A redução das dimensões do ser ao ser do homem privilegiaram a atitude moderna do conhecer. Mas a partir das observações de Emmanuel Carneiro Leão (1) sobre CONHECER e sua etimologia, colocaria os seguintes verbos como âmbito do Ser/homem: - conceituar - conhecer - saber - comprender - querer - poder - sentir - emocionar - apaixonar. De alguma maneira estariam relacionados com o AMAR, segundo Platão no diálogo Fedro, no qual defende o amar como sabedoria.


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Apendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992 p. 173


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O que é sabedoria? É algo misterioso. Podemos falar em: 1º Conhecimento 2º Saber 3º Pensamento 4º Sabedoria. Na Metafísica, Aristóteles já fala de: 1º Empeiria; 2º Techné; 3º Poiesis. - O conhecimento se oporia a pensamento. - O saber estaria em tenão com a sabedoria. - O conhecimento seria as variedades da techné. - O saber seria a empiria, o saber da vida só de experiência feito. - O pensamento seria a experienciação do ser e do não-ser. - A poiesis seria o nomear o sagrado. - A sabedoria seria o pensamento e a poiesis. - O conhecimento e o saber implicariam uma moral, o que se usa. - O pensamento e a poiesis implicariam uma ética, o que se é e não é, o sagrado. Permeando todos eles, o valor, que adquire diferentes facetas na tensão moral/ética, ou melhor, moral/ético. O conhecimento tomou uma tal abrangência que atinge hoje a questão do valor na dimensão moral/ético, sem, no entanto, ser pensamento e poiesis, mas porque atinge as possibloidades de ser. A linguagem permeia a todas essas dimensões. Igualmente a verdade e a liberdade, em diferentes graus e dimensões. Há uma referência valor/linguagem porque perfaz a tensão physis/logos e a verdade/liberdade. Estes três pares implicam a paidéia poética. A sabedoria é a experienciação da simplicidade do ser e não-ser como querer e não-querer, saber e não-saber, sentir e não-sentir, crer e não-crer.


9

No fragmento 40, Heráclito fala de saber e sabedoria: "Muito saber não ensina sabedoria, pois teria ensinado a Hesíodo e Pitágora, a Xenófanes e Hecateu." (1)


Referência:
(1) Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Os pensadores originários. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 69.

10

O turbilhão de informações e conhecimentos que cerca e assedia o ser humano e parece configurar e dar conta da realidade cada vez mais carece de sentido, porque se tornam uma avalanche de significantes plenos de significado e vazios de sentido. Falta a sabedoria.