Autodiálogo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 19h52min de 24 de janeiro de 2009 por Andre (Discussão | contribs)

1

"- Seus conselhos. Mas existe um grande, o maior obstáculo para eu ir adiante: eu mesma. Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho. É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma. [...] - Sou um monte intransponível no meu próprio caminho. Mas às vezes por uma palavra tua ou por uma palavra lida, de repente tudo se esclarece. Sim, tudo se esclarecia e ela surgia de dentro de si mesma quase com esplendor" (1).


Referências:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 54.

2

"Unicamente porque o Entre-ser enquanto tal é determinado pela ipseidade é que um eu-mesmo se pode relacionar com um tu-mesmo. A ipseidade é o pressuposto para a possibilidade da egoidade, que se revela sempre apenas no tu. A ipseidade, porém, nunca se refere ao tu, mas - porque primeiro possibilita tudo isso - é neutra perante o ser-eu e ser-tu e ainda com mais razão perante a 'sexualidade'" (HEIDEGGER: 1988:75). Quando consideramos que no auto-diálogo se dá um eu que é ao mesmo tempo um tu, então aparece cada um de nós como eu e não-eu, ou seja, há sempre um E, que podemos entender como um ENTRE, onde se dá algo de neutro, no sentido de ser um e outro. Que entre é esse? Não será o próprio logos, como vigor do próprio diá-logo?


Referências:
HEIDEGGER, Martin. A essência do fundamento. Lisboa: Edições 70, 1988.

3

Falamos cotidianamente, mas nem sempre dialogamos. Tanto o diálogo comunicativo, como o heterodiálogo pressupõem o autodiálogo. É neste que o lógos se faz presente em toda sua densidade. É que a escuta do lógos nos conduz necessariamente a solidão, que é, como diz Platão, "o diálogo áfono consigo mesmo" (1). Em tal diálogo o lógos se faz e dá como o próprio (auto) de tal maneira que sempre "entra algo 'indizível' que não pode ser totalmente trazido à voz pela linguagem e tampouco propriamente à palavra, pois não se comunica nem aos outros nem mesmo ao interessado" (2). Tal solidão não é um isolamento, mas o próprio lógos como solo nutriz de onde surge tudo que é passível de diálogo e possível no diálogo.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) PLATÃO. Sofista.
(2) ARENDT, Hannah. Homens em tempos sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 256.


Ver também: