Entre

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 16h23min de 28 de Dezembro de 2008 por Andre (Discussão | contribs)
O entre, ao nos projetar nos interstícios da liminaridade, se desdobra em duas facetas. A primeira é a tensão. Esta indica a questão da harmonia como tensão de opostos, mas onde estes opostos de alguma maneira se manifestam, ora se dando um, ora se dando outro. Enquanto tensão de opostos na manifestação do "entre" como harmonia, é que podemos falar de complementaridade. Por exemplo, dia e noite, onda e partícula, mito e rito, masculino e feminino, apolínio e dionisíaco etc. A segunda faceta é a disputa. Esta já indica o "entre" na sua radicalidade, onde não há complementaridade, porque esta sempre se refere à ordem do manifestável. Na disputa há muito mais do que tensão. Na disputa comparece o próprio abismo. Seu exemplo fundamental é vida e morte. Não dá para saber o que é morte. Ninguém voltou para dizer a sua experienciação. Nela, não há complementaridade nenhuma, pois esta, em-si, se funda na negação. Já a disputa funda a tensão, mas não o contrário, porque tal fundar é abismal. É a morte. Outro exemplo é mundo e terra. Outro é nada e ente. Outro é silêncio e voz. Enfim é o vazio e a teia. Por mais que a teia se expande tanto mais o vazio a concerne, cerca, funda e se retrai. O pensamento oriental fala de dezoito modos do vazio. Há, portanto aí, uma disputa e não simplesmente uma tensão. Na disputa, o próprio "entre" se vê engolfado pelo nada. É o silêncio misterioso de Édipo no final da tragédia "Édipo em Colona". Para entender o engolfar o "entre", pelo nada, é necessário ter em mente que o "entre" é a própria presença do nada em seu mistério. No fragmento 123: physis kryptesthai philei, de Heráclito, a physis pode ser onda e/ou partícula, mas o kryptesthai, não.
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