Sentido

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:(1) LISPECTOR, Clarice. Maçã no escuro. 3.e. Rio de Janeiro, José Álvaro, 1970, p. 252.
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:Cf. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 208, § 32.
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:Cf. HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo''. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 208, § 32.
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:Heidegger diz no ensaio "A origem da obra de arte" que os sentidos (aistheton) só apreendem "algo" na medida em que fazerm parte, de algum modo, de um "mundo". Ou seja, a "coisa" já se oferece num determinado "sentido" e cada sentido só sente a partir e no âmbito desse "sentido" (mundo). É claro que há aí uma relação constituída por um todo fundada pelo sentido e experienciada no e pelos sentidos. Um exemplo bem consistente é o [[jogo]]. Os movimentos, os processos, os toques, a presença dos sentidos recebem todos o seu sentido pelo sentido inerente ao agir que o jogo traz e pressupõe. Sem este sentido não há jogo. Os sentidos que entram na execução de um jogo e seus processos se manifestam nas jogadas e nos jogadores. Mas tanto uns como outros têm seu horizonte de sentido, no "sentido" (mundo) do jogo que está sendo jogado. Porém, a aparente "gratuidade" do jogo, de cada jogo, é uma doação do sentido do real no sentido do agir do ser humano. É nesse sentido que podemos dizer que o ser humano é essencialmente um ser lúdico: sentido, mundo, linguagem.

Edição de 16h15min de 9 de janeiro de 2009

Tabela de conteúdo

1

É que uma língua só comunica se e na medida em que sua competência tiver sentido, isto é, enquanto puder articular as experiências inovadoras partilhadas pela comunidade. Responder à pergunta se um discurso é ou não é significativo equivale a responder à pergunta: que dimensão da experiência comunitária ele exprime, consolida e transforma?(1) Ora, este fato mostra claramente que realidade e homem se dimensionam no vigor da Linguagem. É por isso que estas questões: homem, realidade, linguagem se constituem no núcleo duro da Poiesis. Perguntar, pois, pelo homem e pela realidade na Modernidade e na Pós-modernidade é perguntar pelo que acontece à Linguagem.


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Conferência: A Pós-modernidade. Mimeo, p. 9.


2

"Se o essencial não foi destinado a ser compreendido, se somos cegos por que insistimos em ver com os olhos, por que não tentamos usar estas nossas mãos entortadas por dedos? Por que tentamos ouvir com os ouvidos o que não é som?"


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Maçã no escuro. 3.e. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1970, p. 252.


3

A questão do sentido fica mais clara quando se examina o triângulo semiótico e se tenta aplicá-lo à música. Do ponto de vista da semiótica ou semiologia parece facilmente que o real é construído a partir do signo, daí que o referente foge do horizonte de reflexão, ficando na tensão significante/significado, seja como denotação, seja como conotação. Mas quando se tenta aplicar à música, esta é que origina o significante e o significado, mas sem que se possa falar em referente, ou seja, a música é o próprio referente na medida em que é a realidade tanto mais se manifestado quanto mais mergulhando misteriosamente no velar-se e no silenciar. É deste silêncio que se haure o sentido. Mas então aí não se pode falar de significado. O que aqui se diz da música deve ser dito igualmente da poesia e de todas as artes.


4

Eis os três significados fundamentais de sentido (sentidos/sentir/percepção; direção, caminho; sintaxe, reunião enquanto aquilo que permanece, é constante e confiável). A apreensão da linguagem como a que dá sentido (reduzida ao conceito/signo) vem do assinalar o logos a sintaxe, a ordem enquanto sentido que vigora no reunir, na unidade de reunião. Por isso, logos significa fundamentalmente o de-por e pro-por enquanto reunião e ordem de sentido. O sentido, portanto, enquanto sintaxe/logos está no núcleo do que é "lugar" e do que é "mundo". É necessário fazer uma fenomenologia do sentir. Não há, apenas os diferentes sentidos reunidos no sentir. O sentir é também um impulso vital de tensão de ente/ser pelo qual, como sentir no âmbito do ente, o sentir deste e daquele ente, cada ente como sendo quer sentir tudo, ou seja, o Ser. Isso fica, por exemplo, patente no poema de Fernando Pessoa: "Multipliquei-me, para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo". É importante compreender que a música perfaz todos os verbos-questões e que, por isso mesmo, essa inter-face de physis e poiesis nos verbos-questões se dá sempre como sentido. Esse dar-se da physis/poiesis como sentido é o Ser-entre, o lugar, o mundo.


5

Cf. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 208, § 32.


6

Heidegger diz no ensaio "A origem da obra de arte" que os sentidos (aistheton) só apreendem "algo" na medida em que fazerm parte, de algum modo, de um "mundo". Ou seja, a "coisa" já se oferece num determinado "sentido" e cada sentido só sente a partir e no âmbito desse "sentido" (mundo). É claro que há aí uma relação constituída por um todo fundada pelo sentido e experienciada no e pelos sentidos. Um exemplo bem consistente é o jogo. Os movimentos, os processos, os toques, a presença dos sentidos recebem todos o seu sentido pelo sentido inerente ao agir que o jogo traz e pressupõe. Sem este sentido não há jogo. Os sentidos que entram na execução de um jogo e seus processos se manifestam nas jogadas e nos jogadores. Mas tanto uns como outros têm seu horizonte de sentido, no "sentido" (mundo) do jogo que está sendo jogado. Porém, a aparente "gratuidade" do jogo, de cada jogo, é uma doação do sentido do real no sentido do agir do ser humano. É nesse sentido que podemos dizer que o ser humano é essencialmente um ser lúdico: sentido, mundo, linguagem.