Mudança

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 11h45min de 9 de janeiro de 2014 por Fábio (Discussão | contribs)

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Diz Nietzsche: "Os meios de expressão da linguagem são inutilizáveis para expressar o "devir": pertence à nossa inevitável necessidade de conservação o estabelecer (setzen) insistentemente um mundo grosseiro de permanência, de "coisas" etc. Isto é, de objetos" (1). Há uma contradição inerente a esta fala, pois ela mesma se conserva até hoje e não é objetiva, não só porque sua interpretação muda, mas porque surgem outras interpretações, de onde se comprova que não há uma correlação de verdade entre o que se afirma e o que muda. Além disso, só se considera aí o conceito, não a questão e nem a imagem-questão em que se dão a poíesis e o mito. Há uma modulação entre "muda" e "desvela". O "muda" só acentua o fluir não tanto do consistente na sua manifestação/desvelamento, mas de um aspecto mutante como fluir temporal. E tanto o "muda" como o "manifesta" estarão ligados à poíesis, inerente à phýsis/ ser/ realidade e ao tempo e à linguagem. Por isso, é que o tempo se dá como verbo/ação. E estes são linguagem. O "manifesta"/desvela é consistente porque ele não significa um "muda" em si vazio, como se pode observar no não mudar ou não mover aleatório do vácuo. É o que pensamos a partir de uma passagem de Grande Sertão: Veredas que diz: "a mó do moinho, que, nela não caindo o que moer, mói assim mesmo, si mesma, mói, mói" (2). Isto se refere ao personagem em questão Zé Bebelo, que perdeu o sentido do agir e passa a se auto-moer, como um molnho que nada tivesse para moer, isto é, passa a ser o moer vazio, o moer a si mesmo no vazio. Por isso, não se pode falar de "muda" (movimento da pedra) sem o "manifesta/desvela" (manifesta/desvela algo enquanto o que é desvelado). Mas o mesmo deve ser dito de "permanece" e "vela". Na realidade, a questão que aí se faz presente desde os pensadores originários é a questão da ARKHÉ.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin: "O problema de um pensamento e de uma linguagem não objetivantes na teologia atual". In: Phaenomenologie und Theologie. Frankfurt: Victorio Klostermann, 1970.
(2) ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 307.


Ver também:
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