Interpretação

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 19h21min de 19 de Dezembro de 2008 por Fábio (Discussão | contribs)

Tabela de conteúdo

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Através da etimologia da palavra interpretação, chega-se ao valor. Mas pode-se ampliar essa compreensão, partindo da inter-subjetividade e da realidade social. Cf. FREITAG, Bárbara quando trata da teoria da ação comunicativa de Habermas.


Referência:
FREITAG, Bárbara. Teoria Crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense,1985, pp.58-59.


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Na questão da interpretação, em que se pensa a diferença da análise, da explicação e do diá-logo, é essencial ter em mente a exegese e, nesta, os três passos fundamentais: intelligendi, aprehendi e applicandi. Ora, este processo tem alguns passos que julga o texto/obra como algo “objetivo”. Aqui está a questão: como dar esses três passos sem questionar o que se apresenta sem a tensão com o que se vela? Mas, constatando que toda obra de arte opera a partir da linguagem, como ler radicalmente se não for como diálogo, onde o que é comum e o mesmo é o logos?


Referências:
CASTRO, Manuel Antônio de. A questão hermenêutica. In: Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994.


Acessível também em: www.travessiapoética.blogspot.com.


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O que ocorre na leitura de cada um como ente singular? Certamente ela se dá em cada um como interpretação e diá-logo. Contudo, duas dimensões também aí se fazem presentes: ser e linguagem. Martin Heidegger no ensaio "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador" (1), diz que as duas grandes questões que o freqüentam são: ser e linguagem. Surge a questão: cada leitor é um ente absolutamente original. Na medida em que o ser se dá em cada ente, certamente também a linguagem. E o mesmo acontece com a leitura, ou seja, cada leitor é único, não como subjetividade, mas como ente do ser. Então a interpretação/diá-logo certamente vai seguir essa mesma dimensão. E então pode-se perguntar: o que une a todos? Duas dimensões ontológicas: o não-saber e o logos como mundo e memória de todas as leituras e diálogos. O logos é a medida de todas as dimensões e possíveis leituras.


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador. In: A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003.


4

Cf. HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p.184.


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Cf. HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, pp. 77; 78; 84; 95.


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Na poiesis o que permanece é o caminho. E aí temos: leitura como diálogo a partir da interpretação como pensamento e caminho. Ligando estes três termos, amplia-se e radicaliza-se a questão da leitura como interpretação: o diálogo interpretativo passa a ser caminhada de manifestação do que cada um é, no vigor poético da poiesis como verdade. Ler, interpretar e dialogar é percorrer na tripla dimensão (*horidzo* (limito/horizonte/limiar), ex-peras (porta/passagem) e telos (sentido) o caminho do ser. É a travessia. Ocorre então que interpretar como diálogo onto-poético é uma ascese. Quando interpretamos nesse sentido não iremos transmitir conceitos nem conhecimento nem informações, mas apenas e tão somente assinalar a caminhada. Toda caminhada que se move na poiesis do ser é co-letiva, onde o logos reúne como identidade as diferenças.


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Criação é concriação, assim como interpretar é concriar. A interpretação não é um ato epistemológico-científico, mas poético. Por isso, a palavra hermenêutica tem sua origem no mito de Hermes. A interpretação se dá sempre como um ato de compreensão e jamais de análise. A criação do poeta só é criação se for con-criação, porque na obra não é o poeta que cria, mas é a própria realidade que advém como verdade e sentido, na medida em que ela opera desvelando-se tanto mais quanto mais se vela, enquanto linguagem do silêncio.


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O pensamento estará relacionado com o diálogo-pensante em sua relação com o passado. E aí diz Márcia Cavalcante Schuback: “O diálogo pensante não pode restaurar. Pode apenas traduzir para um começo. Isto é o que Heidegger chama de interpretação. A interpretação não é jamais neutra. A interpretação nunca é apreensão de um dado preliminar, isenta de pressuposições. Se a concreção da interpretação, no sentido da interpretação textual exata, se compraz em se basear nisso que 'está' no texto, aquilo que, de imediato, apresenta como estranho no texto nada mais é do que a opinião prévia, indiscutida e supostamente evidente do intérprete” (1). A interpretação é sempre uma intervenção poética pessoal, se for escuta do logos, senão torna-se mero subjetivismo opiniativo.


Referências:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. Para que língua se traduz o Ocidente. In: O que nos faz pensar. PUC-Rio, nº10, 1996, p.63.


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A quantidade de informações deve ser vista levando em consideração três atitudes (entre outros aspectos):

1º Lingüístico-contextual: entram aí forma, língua, discurso, linguagem, dados estruturais etc. 2º Fenomenológica: ultrapassa-se aqui a percepção de “coisa” como objeto conceitual (inerente à atitude anterior) e entra-se mais radicalmente na complexidade da “coisa”. Esta pode limitar-se a uma operação epistemológica. 3º Ontológica: englobando as duas anteriores, operacionaliza-se no diálogo, onde a abertura para a escuta do logos é fundamental. O conceito social de linguagem está ligado à concepção determinística do homem pela história e ao seu determinismo histórico-material.

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