Experienciação

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 21h37min de 29 de março de 2009 por Andre (Discussão | contribs)

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A questão da linguagem e do real pode ser vista em três instâncias:
1ª) Semântica: por exemplo, quando se faz um levantamento semântico de uma palavra. É necessária a consulta a um bom dicionário lexical;
2ª) Fenomenológica: p.ex. quando se levantam os diversos conceitos em sua tentativa de definição e apreensão, tanto do ente como do ser, em que a própria palavra fenomenologia mostra a dinâmica essencial da realidade e suas realizações e de seu estar realizando-se. Aqui é necessário consultar um dicionário de filosofia.
3ª) Etimológico-ôntico-poética: as duas primeiras ainda se movem numa sintaxe gramático-conceitual-formal. Já a última se centra na própria poíesis/lógos como questão, isto é, a tensão do entre manifestar e dizer e velar e silenciar. Mas esta só acontece como experienciação no sentido em que Clarice Lispector usa a palavra aprendizagem no romance Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.

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A experienciação, junto com o "telos" e o "horizonte", constitui as três instâncias da travessia poética do ser humano. Porém, estas três instâncias precisam do aberto, ou seja, da clareira. Mas não há clareira sem mundo, como não há mundo sem clareira. A clareira é o "entre" de ex-perienciação de "terra" E "mundo. Por isso, nossa condição fundamental é sermos pro-jeto, ou seja, o sermos "entre". Em vista disso, essas três instâncias se realizam através da tripla escuta, que constitue o triplo diálogo. É, pois, fundamental, pensar a travessia poética a partir da tripla escuta e do triplo diálogo. Ao mesmo tempo estão relacionados ao "dizer/dichten". Ver abaixo.


Referência:
(1)HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Petrópoli:, Vozes, 2003, p. 146-8.

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Quando concluímos que toda interpretação e leitura de obras poéticas deve caminhar e ser exercida como ex-perienciação, aqui ela tem um sentido bem preciso: consiste no manifestar e desabrochar como saber o que cada um é. Nesta manifestação consiste o que cada um é enquanto verdade. Não há aí nenhuma atitude prévia que consista num ensino, no sentido de transmissão de conhecimentos, mas no exercitar e desvelar o que sou como aprendizado. Nisso e só nisso consiste o ensinar. Por isso diz Guimarães Rosa: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende". O ensinar e aprender se diferenciam assim: o ensino corresponde ao conhecimento, às informações. O aprendizado ao saber e à sabedoria. Assim sendo, a experienciação de fato perfaz um caminho de aprendizado, mas perpassado pelo ensinar, ou seja, pela aquisição de conhecimentos. O conhecimento é de alguma maneira o aspecto técnico de todo saber, como os degraus de uma escada que se vai subindo. Subimos para a sabedoria-experienciação, mas caminhamos pelos e nos degraus do conhecimento enquanto técnica que, de alguma maneira, é funcional. Só a aprendizagem não é funcional. O interessante é que exatamente por ser funcional ele, dependendo da ocasião e do tempo, pode ser abandonado e até substituído. Por isso, a leitura interpretativa inaugural trafega do conhecimento à sabedoria. A funcionalidade torna a presença do conhecimento eventual, mas também necessário. A eventualidade e mutabilidade torna este necessário mutável e, até, em determinado momento, completamente secundário. Mas jamais dispensável. Por isso, a ex-perienciação se dá numa originária DIALÉTICA de limite e não-limite.

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A ligação da experienciação com a verdade e com o método fica bem clara no § 172 de A origem da obra de arte quando diz: "A essência da poíesis é a fundação da verdade. O fundar compreendemo-lo aqui em um triplo sentido: fundar como doar, fundar como fundamentar e fundar como começar. A fundação, porém, é verdadeira somente na leitura-inaugural. Assim, a cada modo de fundar corresponde uma semelhante da leitura-inaugural-desvelante". O método é aquele caminho no qual e pelo qual a verdade da obra se dá numa tripla experienciação que se deve fazer presente na leitura-inaugural-desvelante, igualmente de modo triplo e correspondente. Quando tal acontece então a leitura-inaugural-desvelante é onto-poética.


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Tradução de Manuel Antonio de Castro e Idalina Azevedo da Silva. Acessível para uso acadêmico em: www.travessiapoetica.blogspot.com

Ver também