Fala

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 20h47min de 15 de janeiro de 2009 por Felipe (Discussão | contribs)

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Para experienciar a ESCUTA é necessário dar ouvidos à FALA. Há duas falas: a do poeta e a da musa. Há então a escuta da fala e a fala da escuta. No diálogo se dá uma dupla fala e uma dupla escuta, mas que supõe uma outra fala e uma outra escuta. No dizer de Emmanue Carneiro Leão: “Assim a Linguagem é o ethos, a estância onde o extraordinário visita o homem... a partir desta estância os filósofos dizem sempre a mesma coisa sobre a mesma coisa” (1). Para chegar “à mesma coisa”, Emmanuel propõe três leituras e é na terceira que se pode chegar à “mesma coisa” que ele identifica com o que Parmênides nos propõe em seu pensamento: o “... coração intrépido da verdade de circularidade perfeita!” (2). Esta fala é o silêncio da Linguagem. Por isso acrescenta: “É que a compreensão só se instala no instante em que começa a brilhar em nós o que o texto não diz mas quer dizer em tudo quanto diz” (2). Essa FALA, esse núcleo é a MEDIDA. Há a fala, o silêncio e a escuta: estes são articulados em todos os empenhos (agir) de perguntar e desempenhos de responder.
Há a fala intramundana: a linguagem instrumental e reprodutiva/cotidiana. E há a fala como manifestação: a linguagem poética. Aqui o que fala é o que se manifesta no vigor do que se oculta, o silêncio da linguagem como a fala poética. A ESCUTA é a eclosão da compreensão do sentido e da verdade do ser, do sentido e da verdade do outro, do TU/EU, tanto em relação ao hétero-diálogo quanto ao auto-diálogo, onde cada eu é também um tu, porque é e não-é. Tanto no hétero-diálogo como no auto-diálogo a possibilidade da compreensão acontece porque ambos se dão na identidade e unidade do logos, fundamento de todos os diálogos. O logos fala não o homem. O homem só fala quando escutando corresponde à fala do logos.


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. O pensamento de Heiddeger no silêncio de hoje, in: Revista Vozes, n. 4, 1977, p. 6
(2) idem, p. 7

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A história do Ser é FALA e ESCUTA. A escuta, no essencial, é a abertura de toda ek-sistência, é o Da (entre)- de todo Sein (ser): Da-sein ou Entre-ser, onde quem fala, pensa, age, sente é o silêncio enquanto velamento e Noite, que se retrai para que o dia apareça como dia da Noite. Na história do Ser, esse retraimento nos FALA nas Idéias de Platão, no Ens Creatum da Idade Média, no Cógito de Descartes ou idéias claras e distintas da Modernidade. Por isso A. R. Buzzi diz: “O processamento do Ser em sua história é sempre uma fábula. A fábula moderna, isto é, a via em que o homem hoje se colocou para processar a verdade de seu ser é o "Discours de la méthode" [Discurso do método], onde as figuras exponenciais não são táteis como na fábula mítica, nem deuses, anjos e demônios como na fábula teológica; são as idéias claras e distintas. As idéias claras e distintas são as figuras exponenciais da fábula do cógito.” Até onde as idéias claras e distintas nos lançam no abismo da Noite? Até onde a fábula do "cogito" (penso, raciocino) admite-se como fala do que se dá a escutar como fala, não do cógito, do penso, da razão, mas do silêncio?
No sintagma: fala E escuta, que lugar ocupa o “E”? Como conciliar os dois sintagmas: fala E escuta/ fala E silêncio? Não é a escuta a mediação ou o E de fala E silêncio? A escuta pressupõe sempre a fala e o silêncio. A questão é em que níveis eles se dão.
Pode-se relacionar fala com “angelos”, Hermes.
Referências:
BUZZI, A. R. A modernidade, in: Revista Vozes, 4,1977, p. 26.

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