Poeta

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "No [[poético]], as [[línguas]] são o [[rito]] da [[Linguagem]]. O [[mito]] narrado não é o [[mito]], mas o [[rito]] e a [[língua]] da [[Linguagem]]. Por isso o [[poético]], toda [[arte]], tem [[origem]] [[mítica]]. E tanto o [[mito]] como a [[arte]] radicam no [[sagrado]]" (1). Martin [[Heidegger]] afirma: "O [[pensador]] diz o [[ser]], o [[poeta]] nomeia o [[sagrado]]" (2).
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: "No [[poético]], as [[línguas]] são o [[rito]] da [[Linguagem]]. O [[mito]] narrado não é o [[mito]], mas o [[rito]] e a [[língua]] da [[Linguagem]]. Por isso o [[poético]], toda [[arte]], tem [[origem]] [[mítica]]. E tanto o [[mito]] como a [[arte]] radicam no [[sagrado]]" (1).
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: Martin [[Heidegger]] afirma: "O [[pensador]] diz o [[ser]], o [[poeta]] nomeia o [[sagrado]]" (2).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica? - Posfácio (1943)". In: ''Heidegger - Os Pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "Que [[é]] [[metafísica]]? - Posfácio (1943)". In: [[Heidegger]] - Os [[Pensadores]]. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51.'''
    
    
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do  canto das Sereias". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do  [[canto]] das [[Sereias]]". In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.'''
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: "Mas onde a [[linguagem]] como [[linguagem]] vem à [[palavra]]? Raramente, lá onde não encontramos a [[palavra]] certa para [[dizer]] o que nos concerne, o que nos provoca, oprime ou entusiasma. Nesse momento, ficamos sem [[dizer]] o que queríamos [[dizer]] e assim, sem nos darmos bem conta, a própria [[linguagem]] nos toca, muito de longe, por [[instantes]] e fugidiamente, com o seu [[vigor]].
: "Mas onde a [[linguagem]] como [[linguagem]] vem à [[palavra]]? Raramente, lá onde não encontramos a [[palavra]] certa para [[dizer]] o que nos concerne, o que nos provoca, oprime ou entusiasma. Nesse momento, ficamos sem [[dizer]] o que queríamos [[dizer]] e assim, sem nos darmos bem conta, a própria [[linguagem]] nos toca, muito de longe, por [[instantes]] e fugidiamente, com o seu [[vigor]].
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: Quando se trata de trazer à [[linguagem]] algo que nunca foi dito, tudo fica na dependência de a [[linguagem]] conceder ou recusar a [[palavra]] apropriada. Um desses casos é o do [[poeta]]" (1).
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: Quando se trata de trazer à [[linguagem]] [[algo]] que nunca foi dito, [[tudo]] fica na dependência de a [[linguagem]] conceder ou recusar a [[palavra]] apropriada. Um desses casos é o do [[poeta]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A essência da linguagem". In: ----. ''A caminho da Linguagem''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 123.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "A [[essência]] da [[linguagem]]". In: ----. A [[caminho]] da [[Linguagem]]. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 123.'''
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Sobre o humanismo''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, 1967. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Sobre o [[humanismo]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, 1967. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.'''
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético - a história literária''. Rio de Janeiro: Edições Antares, 2. e., 1982, p. 140.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. '''O [[acontecer]] [[poético]] - a [[história]] [[literária]]. Rio de Janeiro: Edições Antares, 2. e., 1982, p. 140.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 89.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Leitura]]: [[compreender]] e [[interpretar]]". In: -----. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 89.'''
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: "Não é de estranhar porque consideramos [[Heidegger]] um [[poeta]], um [[poeta]] do [[pensamento]] e da [[prosa]], um [[poeta]] poetando o [[ato]] de [[pensar]], um [[poeta]] do [[questionar]]. E os [[poetas]], com um sexto [[sentido]], mais aguçado, portadores de uma [[sensibilidade]], quiçá, extra-sensorial, captam, percebem o [[atemporal]], o além-do-tempo; além do [[horizonte]], tais grandes [[poetas]] são seres-águias que enxergam bem mais longe do que a medianidade geral das demais aves-pessoas" (1).
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: "Não é de estranhar porque consideramos [[Heidegger]] um [[poeta]], um [[poeta]] do [[pensamento]] e da [[prosa]], um [[poeta]] poetando o [[ato]] de [[pensar]], um [[poeta]] do [[questionar]]. E os [[poetas]], com um sexto [[sentido]], mais aguçado, portadores de uma sensibilidade, quiçá, extra-sensorial, captam, percebem o [[atemporal]], o além-do-tempo; além do [[horizonte]], tais grandes [[poetas]] são seres-águias que enxergam bem mais longe do que a medianidade geral das demais aves-pessoas" (1).
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:  (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', 171 - ''Permanência e atualidade da Poética''. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 165.
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:  (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba.''' "[[Diálogo]] com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - [[Permanência]] e atualidade da [[Poética]]. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 165.'''
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: (1) Ingmar Bergman. No filme ''A ilha de Bergman'', de Marie Nyreröd. Bergman escolhe essa fala de um bispo, tio Jakob, personagem do filme ''Confições privadas'', roteiro de Bergman e dirigido por Liv Ullmann, para dizer, sinteticamente, o que ele pensa a propósito dos temas religiosos de seus filmes.
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: (1) Ingmar Bergman.''' No [[filme]] ''A ilha de Bergman'', de Marie Nyreröd. Bergman escolhe essa [[fala]] de um bispo, tio Jakob, [[personagem]] do [[filme]] Confições privadas, roteiro de Bergman e dirigido por Liv Ullmann, para dizer, sinteticamente, o que ele pensa a propósito dos [[temas]] religiosos de seus filmes.'''
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: "Todo [[imaginar]] já é um [[pré-compreender]], que nem sempre encontra a sua [[expressão]]. Aí é que, para [[aparecer]], no [[poeta]] [[acontece]] o “lutar com [[palavras]]...”, de que nos [[fala]] o [[poeta]] [[Drummond]] no [[poema]] “O lutador” (DRUMMOND, 1973, 67). E isso ainda é mais [[verdadeiro]] quando sabemos que “[[palavra]]” diz o que faz [[mediação]] [[entre]] [[o que é]] e [[o não é]], [[entre]] o [[limite]] e o [[não-limite]]" (2).
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: "Todo [[imaginar]] já é um [[pré-compreender]], que nem sempre encontra a sua [[expressão]]. Aí é que, para [[aparecer]], no [[poeta]] [[acontece]] o “lutar com [[palavras]]...”, de que nos [[fala]] o [[poeta]] Drummond no [[poema]] “O lutador” (DRUMMOND, 1973, 67). E isso ainda é mais [[verdadeiro]] quando sabemos que “[[palavra]]” diz o que faz [[mediação]] [[entre]] [[o que é]] e o não é, [[entre]] o [[limite]] e o [[não-limite]]" (2).
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: (1) ANDRADE, Carlos Drummond de. ''Reunião''. 4a. e. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, p. 67.  
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: (1) ANDRADE, Carlos Drummond de. '''Reunião. 4a. e. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, p. 67.'''
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 91.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Leitura]]: [[compreender]] e [[interpretar]]". In: -----. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 91.'''
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: "''Diotima'' - ... sabes que a [[palavra]] ''[[poesia]]'' é de múltiplos [[significados]]. Geralmente chama-se ''[[poesia]]'' à [[causa]] que torna [[possível]] a [[passagem]] de qualquer [[coisa]] do [[não-ser]] ao [[ser]], de maneira que as [[criações]] de todas as [[artes]] são [[poesia]], e que os [[criadores]] são [[poetas]]!" (1).
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: "''Diotima'' - ... sabes que a [[palavra]] ''[[poesia]]'' é de múltiplos [[significados]]. Geralmente chama-se ''[[poesia]]'' à [[causa]] que torna [[possível]] a passagem de qualquer [[coisa]] do [[não-ser]] ao [[ser]], de maneira que as [[criações]] de todas as [[artes]] são [[poesia]], e que os [[criadores]] são [[poetas]]!" (1).
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: (1) PLATÃO. ''O Simpósio ou O do Amor''. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 81.
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: (1) PLATÃO. '''O Simpósio ou O do [[Amor]]. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 81.'''
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: "A vinda da [[poesia]] não é uma [[decisão]] do [[poeta]], porque a [[poesia]] é o [[advento]] e [[presentificação]]-[[doação]] da [[fala]] das [[Musas]], o encontro com o [[canto]] [[divino]] e [[encantador]] das [[Sereias]]. Atentemos para a aventura e ventura de [[Ulisses]]. Ele quer, decidiu-se pela [[Escuta]], isto é, decidiu-se pela [[apropriação]] do [[próprio]]" (1).
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: "A vinda da [[poesia]] não é uma [[decisão]] do [[poeta]], porque a [[poesia]] é o [[advento]] e [[presentificação]]-[[doação]] da [[fala]] das [[Musas]], o encontro com o [[canto]] [[divino]] e encantador das [[Sereias]]. Atentemos para a aventura e ventura de [[Ulisses]]. Ele quer, decidiu-se pela [[Escuta]], isto é, decidiu-se pela [[apropriação]] do [[próprio]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 176.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 176.'''
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: "A [[verdade]] para ter o [[poder]] operante em cada [[sistema]] e não se esgotar em cada um deles só pode ser a [[não-verdade]]. Assim como o [[Deus]] que concede [[realidade]] à [[legitimidade]] e [[veracidade]] de cada [[religião]] e [[funda]] cada [[fé]] e a [[fé]] de cada um só pode [[ser]] o [[Não-deus]]. Este, por [[ser]] “Não-”, é inominável como o [[silêncio]] e a [[sabedoria]]. A Ele só cabe o nome do não-conhecer, do não-nomear, do não-ver: [[mistério]] vivo e pulsante, [[nada]] e [[fonte]] de [[tudo]].
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: "A [[verdade]] para ter o [[poder]] operante em cada [[sistema]] e não se esgotar em cada um deles só pode ser a [[não-verdade]]. Assim como o [[Deus]] que concede [[realidade]] à [[legitimidade]] e veracidade de cada [[religião]] e [[funda]] cada [[fé]] e a [[fé]] de cada um só pode [[ser]] o [[Não-deus]]. Este, por [[ser]] “Não-”, é inominável como o [[silêncio]] e a [[sabedoria]]. A Ele só cabe o nome do não-conhecer, do não-nomear, do não-ver: [[mistério]] vivo e pulsante, [[nada]] e [[fonte]] de [[tudo]].
: Um tal [[mistério]] [[sempre]] adveio na [[não-verdade]] de todas as grandes [[obras]] [[poético]]-[[sagradas]]. Impulsionados pelo [[apelo]] inominável da [[não-verdade]], todos os grandes [[poetas]] [[sempre]] responderam e corresponderam com suas [[obras]] – desajeitada e incompleta [[resposta]] – à manifestação [[concreta]] da ''[[poiesis]]'' como [[não-verdade]]. E nisso e por isso todas as grandes [[obras]], sejam dos [[poetas]], sejam dos que receberam o [[apelo]] de anúncio do [[mistério]], proclamam a [[verdade]] da [[não-verdade]]" (1).
: Um tal [[mistério]] [[sempre]] adveio na [[não-verdade]] de todas as grandes [[obras]] [[poético]]-[[sagradas]]. Impulsionados pelo [[apelo]] inominável da [[não-verdade]], todos os grandes [[poetas]] [[sempre]] responderam e corresponderam com suas [[obras]] – desajeitada e incompleta [[resposta]] – à manifestação [[concreta]] da ''[[poiesis]]'' como [[não-verdade]]. E nisso e por isso todas as grandes [[obras]], sejam dos [[poetas]], sejam dos que receberam o [[apelo]] de anúncio do [[mistério]], proclamam a [[verdade]] da [[não-verdade]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: ''Confraria'' - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 20.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio.''' "As três [[pragas]] do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 20.'''
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: "      Ponho na altiva mente o fixo esforço
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Da altura, e à sorte deixo
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E às suas leis, o [[verso]];
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E o escravo ritmo o serve" ('''Reis: 1965, 291''').
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: "A [[visão]], ou introvisão, dos [[poetas]] [[celtas]] funciona em [[três]] níveis. Ela vê a [[sabedoria]] [[passada]] do seu [[mundo]], propicia entendimento [[intuitivo]] do [[presente]] e possibilita a previsão do [[futuro]]" (1).
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: (1) HOOD, Juliette.''' "A [[Sabedoria]] dos [[Bardos]]". O [[livro]] [[celta]] da [[vida]] e da [[morte]]. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora [[Pensamento]], 2011, p. 119.'''

Edição atual tal como 22h11min de 1 de Agosto de 2025

1

"No poético, as línguas são o rito da Linguagem. O mito narrado não é o mito, mas o rito e a língua da Linguagem. Por isso o poético, toda arte, tem origem mítica. E tanto o mito como a arte radicam no sagrado" (1).
Martin Heidegger afirma: "O pensador diz o ser, o poeta nomeia o sagrado" (2).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica? - Posfácio (1943)". In: Heidegger - Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do canto das Sereias". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.

2

"Mas onde a linguagem como linguagem vem à palavra? Raramente, lá onde não encontramos a palavra certa para dizer o que nos concerne, o que nos provoca, oprime ou entusiasma. Nesse momento, ficamos sem dizer o que queríamos dizer e assim, sem nos darmos bem conta, a própria linguagem nos toca, muito de longe, por instantes e fugidiamente, com o seu vigor.
Quando se trata de trazer à linguagem algo que nunca foi dito, tudo fica na dependência de a linguagem conceder ou recusar a palavra apropriada. Um desses casos é o do poeta" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A essência da linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 123.

3

"A história literária entendida e realizada a partir das poéticas não oblitera a diferença na identidade, nem a identidade na diferença. Resgata a discursividade do discurso, pois os poetas "dizem sempre o mesmo (das Selbe), isso, no entanto, não significa que dizem sempre coisas iguais (das Gleiche)" (1) (2).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, 1967. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Edições Antares, 2. e., 1982, p. 140.

4

Concreto, na concepção banalizada é o sensível. Porém, o poeta não existe para usar as palavras em seu sentido corriqueiro e banal. Todo poeta é poeta da palavra" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 89.

5

"Não é de estranhar porque consideramos Heidegger um poeta, um poeta do pensamento e da prosa, um poeta poetando o ato de pensar, um poeta do questionar. E os poetas, com um sexto sentido, mais aguçado, portadores de uma sensibilidade, quiçá, extra-sensorial, captam, percebem o atemporal, o além-do-tempo; além do horizonte, tais grandes poetas são seres-águias que enxergam bem mais longe do que a medianidade geral das demais aves-pessoas" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 165.

6

- "Acredita em Deus, tio Jakob? Um Pai do Céu, um Deus do Amor? Um Deus com mãos, um coração e olhar vigilante?"
- "Não use a palavra "Deus". Diga "Santidade". Há santidade em todas as pessoas. Santidade humana. Todo o resto são atributos, disfarce, manifestação e truque. Não se pode decifrar ou capturar a santidade humana. Ao mesmo tempo... é algo que podemos pegar. Algo tangível que dura até a morte. O que acontece depois é escondido de nós. Apenas os poetas, músicos e santos... é que podem descrever aquilo que podemos apenas discernir: o inconcebível. Eles viram, conheceram, compreenderam... não totalmente, mas de modo fragmentado. Para mim é um conforto pensar na santidade humana" (1).


Referência:
(1) Ingmar Bergman. No filme A ilha de Bergman, de Marie Nyreröd. Bergman escolhe essa fala de um bispo, tio Jakob, personagem do filme Confições privadas, roteiro de Bergman e dirigido por Liv Ullmann, para dizer, sinteticamente, o que ele pensa a propósito dos temas religiosos de seus filmes.

7

"Todo imaginar já é um pré-compreender, que nem sempre encontra a sua expressão. Aí é que, para aparecer, no poeta acontece o “lutar com palavras...”, de que nos fala o poeta Drummond no poema “O lutador” (DRUMMOND, 1973, 67). E isso ainda é mais verdadeiro quando sabemos que “palavra” diz o que faz mediação entre o que é e o não é, entre o limite e o não-limite" (2).


Referência:
(1) ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. 4a. e. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, p. 67.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 91.

8

"Diotima - ... sabes que a palavra poesia é de múltiplos significados. Geralmente chama-se poesia à causa que torna possível a passagem de qualquer coisa do não-ser ao ser, de maneira que as criações de todas as artes são poesia, e que os criadores são poetas!" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. O Simpósio ou O do Amor. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 81.

9

Escrever poesia é um diálogo contínuo onde mais do que falar é escutar a voz do silêncio. Ler poesia é um diálogo contínuo onde mais do que querer achar mensagens e comunicar-se, é se deixar tomar pelo vigorar do silêncio. As falas das Musas pressupõem a escuta do vigorar do silêncio. Nela é que se dá o sentido da realidade.


- Manuel Antônio de Castro.

10

"A vinda da poesia não é uma decisão do poeta, porque a poesia é o advento e presentificação-doação da fala das Musas, o encontro com o canto divino e encantador das Sereias. Atentemos para a aventura e ventura de Ulisses. Ele quer, decidiu-se pela Escuta, isto é, decidiu-se pela apropriação do próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 176.

11

"A verdade para ter o poder operante em cada sistema e não se esgotar em cada um deles só pode ser a não-verdade. Assim como o Deus que concede realidade à legitimidade e veracidade de cada religião e funda cada e a de cada um só pode ser o Não-deus. Este, por ser “Não-”, é inominável como o silêncio e a sabedoria. A Ele só cabe o nome do não-conhecer, do não-nomear, do não-ver: mistério vivo e pulsante, nada e fonte de tudo.
Um tal mistério sempre adveio na não-verdade de todas as grandes obras poético-sagradas. Impulsionados pelo apelo inominável da não-verdade, todos os grandes poetas sempre responderam e corresponderam com suas obras – desajeitada e incompleta resposta – à manifestação concreta da poiesis como não-verdade. E nisso e por isso todas as grandes obras, sejam dos poetas, sejam dos que receberam o apelo de anúncio do mistério, proclamam a verdade da não-verdade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 20.

12

" Ponho na altiva mente o fixo esforço

Da altura, e à sorte deixo E às suas leis, o verso;

Que, quando é alto e régio o pensamento,

Súbidta a frase o busca E o escravo ritmo o serve" (Reis: 1965, 291).

13

"A visão, ou introvisão, dos poetas celtas funciona em três níveis. Ela vê a sabedoria passada do seu mundo, propicia entendimento intuitivo do presente e possibilita a previsão do futuro" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. "A Sabedoria dos Bardos". O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 119.
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